A Cannabis Sativa é uma planta. Por isso, seu construto químico e biológico é tão complexo como o de todas as outras espécies vegetais. Em geral, é das plantas que, ao longo da história, a humanidade retirou os princípios ativos dos medicamentos que mudaram o mundo, salvaram vidas e hoje fazem parte de nossa maneira de viver.
Com a Cannabis, o processo não seria diferente, não é? Nela se encontra o canabidiol, um composto químico ainda bastante desconhecido que já mostrou indicativos promissores ao benefício da saúde humana.
De acordo com as pesquisas iniciais, o elemento seria responsável pela melhora de quadros convulsivos, atenuamento dos sintomas do Parkinson e alívio da dor crônica. Um medicamento à base de canabidiol seria capaz de devolver a qualidade de vida a milhares de pessoas.
A curiosidade ao redor do composto é grande, mas a velocidade das pesquisas não corresponde às expectativas. O fenômeno pode ser creditado ao preconceito que envolve a maconha: todas as questões sociais e legais implicadas na guerra às drogas dificultam consideravelmente a realização das pesquisas necessárias.
Por isso, o progresso nas discussões sobre a legalização e regulamentação da substância também são dramaticamente atrasados. Para mudar esse jogo, só com muita informação e pesquisa!
Quer fazer parte da solução? Acompanhe o post e entenda os mitos, as certezas, os benefícios e os desafios do uso do canabidiol.
O que é canabidiol?
O canabidiol é um dos mais de 510 compostos químicos encontrados na Cannabis, chamados canabinoides.
Os canabinóides, em geral, agem no sistema nervoso controlando fatores como sono, fome, humor, controle motor e dor. Nosso próprio organismo produz canabinóides naturais, mas existem os canabinóides sintéticos e os fitocanabinóides, como os encontrados na maconha.
O THC, ou delta-9-tetrahidrocanabinol, é outro composto da erva. Este, por sua vez, possui ações psicoativas e causa a brisa associada ao uso recreativo da Cannabis. É por causa do THC que sentimos euforia, relaxamento, risos espontâneos e a famosa larica.
O canabidiol não causa efeitos psicoativos, pois não se liga aos receptores do cérebro da mesma maneira. Acredita-se que esse composto interage com outros sistemas de sinalização do cérebro, e pode trazer efeitos muito positivos à saúde humana.
Primavera canábica: a recente popularização dos produtos com canabidiol
Recentemente, alguns setores importantes da comunidade científica têm alertado sobre a crescente popularização dos produtos contendo canabidiol – ou CBD – especialmente nos países mais liberais, como os Estados Unidos.
Lá, o canabidiol está presente em óleos essenciais, cremes e alimentos que são consumidos sob a promessa de melhora geral do sono, diminuição dos índices de inflamação, melhora da acne e até prevenção do câncer.
Aparentemente, a não regulamentação do composto abre espaço para que fabricantes e vendedores façam promessas pouco acuradas, expondo usuários a possíveis efeitos negativos que ainda não conhecemos.
De maneira crítica, devemos admitir que ainda sabemos muito pouco sobre esses benefícios. Não se entende exatamente como o CBD isolado atua no cérebro saudável, quais seriam as dosagens corretas e quais são as possíveis interações da substância com outras drogas. Consequentemente, também não sabemos quais são os efeitos do uso a longo prazo.
As dúvidas só poderão ser respondidas após um esforço estruturado de pesquisa envolvendo a comunidade civil e científica. Foi assim que fizemos com os outros compostos que produziram drogas tão úteis à humanidade. O diferencial: esses químicos não eram prejudicados pelo preconceito que atinge a maconha.
Mas calma, nem tudo é fumaça! A seguir, entenda o que as pesquisas já mostraram sobre esse composto tão promissor:
O que sabemos – de verdade – sobre a ação do CBD
O canabidiol pode reduzir convulsões
Diversas pesquisas indicam que o canabidiol tem ação anticonvulsivante. Um dos estudos mais conhecidos sobre os benefícios do canabidiol foi feito por sua aplicação a crianças que sofrem da síndrome de Dravet, uma desordem genética que causa longas e numerosas convulsões. A síndrome prejudica o desenvolvimento e é bastante resistente aos medicamentos existentes.
A frequência média das crises convulsivas no grupo que consumiu o medicamento de canabidiol foi reduzida de 12,4 para 5,9, melhora considerável e muito promissora. Em muitos modelos animais, ainda, o mesmo efeito foi observado: diminui-se a frequência e a intensidade das crises. Os estudos, porém, devem ser aprofundados.
O composto atua contra tumores
Em animais, o CBD mostrou efeitos antitumorais, como o aumento de morte das células cancerígenas e redução do crescimento do tumor. Esses efeitos, porém, ainda não foram estudados em humanos.
Apesar disso, o canabidiol já é usado com sucesso em tratamentos paliativos de pacientes com câncer terminal: ele reduz a dor, a náusea e provoca melhoras no apetite.
O tratamento da ansiedade se beneficia do CBD
Este é outra característica ainda pouco testada em humanos. Em animais, observou-se a diminuição dos comportamentos e respostas fisiológicas relacionadas à ansiedade e ao estresse, como a agitação e frequência cardíaca aumentada.
Em ensaios clínicos pouco abrangentes, o uso do composto foi eficiente na redução de ansiedade em pacientes humanos diante de uma tarefa estressante, como falar em público.
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O CBD mostra ação contra o mal de Parkinson
Um estudo realizado pela FMRP, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, mostra que o canabidiol pode ser muito útil na melhora da qualidade de vida dos pacientes com mal de Parkinson: a intensidade dos sintomas mostrou redução dramática no período de atuação do medicamento.
Por isso, atribui-se características neuroprotetoras ao CBD, que também pode ser eficiente contra o mal de Alzheimer, derrame, esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas. Quer saber mais? Confira a matéria completa sobre a pesquisa no site da USP.
Proibição e regulamentação: o canabidiol na história
Para entender melhor as dificuldades em regulamentar um composto tão cheio de possibilidades, precisamos pensar um pouco sobre a história da maconha. Afinal, já sabemos que a proibição atrasa os avanços tão necessários, mais em que níveis afeta a planta que consumimos?
Ao longo das últimas décadas, os mecanismos de proibição e a consequente não regulamentação da maconha fizeram com que os cultivadores selecionassem a planta. Os indivíduos com os maiores níveis de THC, a substância da brisa, eram cruzados entre si.
Entre outros fatores, isso causa a diminuição progressiva e proporcional dos níveis de CBD, que atenuam os efeitos do psicoativos THC. O CBD, como discutimos, produz diversos outros efeitos positivos. Estes, por causa da não regulamentação, permanecem cada vez mais distantes do grande público.
O resultado é uma experiência desproporcional e menos completa, que pode até ser perigosa! As doses exorbitantes de THC podem aumentar o risco do desenvolvimento de psicose e esquizofrenia em indivíduos já predispostos.
Esse ponto, em especial, contradiz o argumento proibitivo: quanto menos regulada e mais proibida a droga, maiores são seus possíveis efeitos negativos. Isso acontece pois os mercados ilegais tendem a fornecer o máximo de efeito pela menor dose possível. Assim, fica mais difícil reduzir danos e usar de forma consciente.
Para saber mais sobre confira nosso post: Saiba o que é redução de danos!
Em um contexto legalizado e regulamentado, o mercado poderá optar por seleções com maiores níveis de CBD, adequando os efeitos psicoativos ao tipo de uso que se deseja fazer.
Canabidiol no Brasil: legalizado ou não?
O uso terapêutico do canabidiol foi discutido pelo STF e regulamentado pela Anvisa. Desde 2015, a substância não é mais considerada proibida. Mesmo assim, sua comercialização, manipulação e venda são controladas e só podem ser realizadas por representantes autorizados.
No Brasil, psiquiatras, neurologistas e neurocirurgiões certificados podem prescrever o canabidiol em uma receita especial, feita em duas vias. Os medicamentos com o composto possuem tarja preta e, para adquirí-los, só com a receita específica.
O Blog da Mata tem um post completíssimo sobre a presente situação desta substância em nosso país: “Canabidiol no Brasil: Entenda por quem e como é usado”. Quer se aprofundar? Vale a pena a leitura!
E aí, tirou suas dúvidas sobre o canabidiol e seus usos? Pra ficar atualizado na discussão envolvendo o composto, não deixe de seguir nossa página no Facebook, com notícias e matérias fresquinhas. Nos vemos por lá!