História da cannabis: uma jornada cultural, política e social

A cannabis tem uma trajetória fascinante que se conecta com a própria história da humanidade. Desde civilizações antigas até os debates contemporâneos sobre legalização, a planta tem os mais diversos benefícios na medicina, na religião, na economia e na cultura.

Vamos embarcar nessa viagem pelo tempo para entender como uma simples erva se tornou protagonista de tantas transformações sociais. Vem comigo!

Origem da cannabis: primeiros usos e contexto histórico

Para entender a história da maconha, precisamos voltar a milhares de anos, com evidências arqueológicas sugerindo seu cultivo desde 12.000 a.C. na Ásia Central. Os primeiros registros documentados de seu uso medicinal aparecem na farmacopeia do imperador chinês Shen Nung, por volta de 2.700 a.C., onde a planta era recomendada para tratar mais de 100 condições, incluindo gota e malária. ¹

Na Índia antiga

Na Índia antiga, a cannabis ocupava lugar de destaque; ela era vista como uma planta sagrada. O cânhamo era considerado uma das cinco plantas sagradas no Atharva Veda, texto hindu datado de 2.000 a.C.

No Oriente Médio

No Oriente Médio, textos assírios do século IX a.C. já mencionavam o uso da cannabis como incenso cerimonial, remédio e momento de lazer. Os antigos egípcios a utilizavam para tratar glaucoma e inflamações, conforme registros em papiros médicos.

Ao nível global

A chegada global da cannabis aconteceu através das rotas comerciais que conectavam civilizações. Enquanto no Oriente a planta era valorizada por suas propriedades medicinais e espirituais, no Ocidente seu cultivo inicialmente focou em suas fibras resistentes, ideais para cordas e tecidos.

Consegue entender como, desde o início, a cannabis sempre teve diversas atribuições? Além do momento prazeroso de fumar um beck, a planta era cultivada para medicina, objetos e incenso.

Várias bandeiras de países em frente a um edifício moderno.

Descobrimentos modernos: expansão da cannabis pelas rotas de comércio

Com as grandes navegações e a expansão do comércio mundial, a cannabis começou a viajar o mundo. Os colonizadores europeus levaram sementes de cânhamo para as Américas no século XVI, onde seu cultivo foi incentivado para a produção de cordas e velas para as embarcações.

No Brasil colonial, a cannabis chegou com os escravos africanos, que trouxeram não apenas as sementes, mas também práticas culturais associadas a como plantar cannabis. Conhecida como “fumo de Angola” ou “maconha”, a erva era utilizada em rituais religiosos e como forma de aliviar o sofrimento da escravidão.

Proibição e estigmatização da maconha ao redor do mundo

O século XX marcou uma dramática mudança na percepção social e legal da cannabis. O que antes era uma planta medicinal e industrial respeitada tornou-se alvo de campanhas de criminalização que transformaram sua imagem pública.

Nos Estados Unidos, a proibição começou a ganhar força na década de 1930, impulsionada por racismo, interesses econômicos e histeria midiática.

Harry Anslinger, diretor do Federal Bureau of Narcotics, liderou uma campanha contra a “marijuana” (termo de origem mexicana deliberadamente usado para associar a planta a imigrantes), alegando que seu uso levava à loucura, ao crime e à degeneração moral. ²

O filme “Reefer Madness” (1936) exemplifica a propaganda anti-maconha da época, retratando jovens usuários transformados em assassinos após alguns tragos. Esta narrativa sensacionalista moldou a percepção pública por décadas.

A criminalização da maconha se intensificou com a “Guerra às Drogas” declarada pelo presidente Nixon em 1971, que exportou políticas proibicionistas para o mundo todo através de pressão diplomática e acordos internacionais.

O papel dos Estados Unidos na proibição global

A influência americana na proibição global da cannabis foi decisiva. Através da Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, patrocinada pela ONU, mas fortemente influenciada pelos EUA, a maconha foi classificada como substância perigosa sem valor medicinal, ao lado da heroína. ³

Esta classificação ignorava séculos de uso medicinal documentado. Países que dependiam economicamente dos EUA rapidamente adotaram legislações repressivas similares, criando um efeito dominó de criminalização global.

Feira movimentada com estandes e visitante

Movimentos de resistência e cultura underground

Apesar da repressão, movimentos contraculturais dos anos 1960 e 1970 abraçaram a cannabis como símbolo de resistência. Figuras famosas que usam/usavam a erva, como Bob Marley, através da contracultura hippie, ajudaram a manter viva uma narrativa alternativa sobre a planta.

Comunidades underground desenvolveram conhecimentos sobre cultivo e usos da cannabis, preservando informações que a ciência oficial havia abandonado devido às restrições legais.

Avanços na legalização da maconha: impactos globais

Nas últimas décadas, aconteceu uma reviravolta na forma de o mundo ver a cannabis. O que começou como pequenos movimentos de defesa do uso medicinal evoluiu para uma onda de reformas legais que está transformando políticas públicas.

A Califórnia foi pioneira ao aprovar, em 1996, a Proposição 215, primeira lei estadual americana a permitir o uso medicinal da cannabis. Este movimento abriu caminho para que outros estados seguissem o exemplo.

Em 2013, o Uruguai tornou-se o primeiro país a descriminalizar a cannabis, implementando um sistema regulado de produção e distribuição. Esta decisão histórica demonstrou que alternativas à proibição eram possíveis.

O Canadá seguiu o exemplo já no ano de 2018, tornando-se a primeira nação do G7 a legalizar o uso da cannabis. O modelo canadense, que inclui regulamentação rigorosa e investimentos em educação pública, tem servido de inspiração para outros países.

Impactos econômicos e medicinais

A legalização tem impulsionado pesquisas científicas sobre os potenciais usos medicinais da maconha. Estudos recentes demonstram eficácia no tratamento de condições como epilepsia refratária, dor crônica e náuseas associadas à quimioterapia. ⁴

A indústria da cannabis legal também começou a aparecer como um poderoso motor econômico, gerando empregos em áreas diversas como agricultura, processamento, pesquisa e varejo. Para você ter uma ideia deste impacto, em estados americanos, o setor tende a empregar mais pessoas que indústrias tradicionais. ⁵

Aqui no Brasil, o grupo Da Mata vem ganhando espaço nesse nicho e contribuindo com pacientes que precisam de tratamentos com medicamentos de cannabis. O Dispensário Da Mata é o espaço em que compartilhamos conteúdos relevantes que ajudam as pessoas a entenderem um pouco mais sobre a medicina cannábica, bem como vendemos os produtos conforme todas as regulamentações da ANVISA.

Debates contemporâneos sobre legalização da maconha

Apesar dos avanços, o debate sobre a legalização acontece o tempo todo, a todo fervor. Defensores argumentam que a regulamentação protege a saúde pública, reduz o poder do crime organizado e respeita liberdades individuais. Já os críticos expressam preocupações sobre potenciais impactos na saúde mental, especialmente entre jovens.

O desafio atual para legisladores é desenvolver modelos regulatórios que maximizem os benefícios da legalização enquanto minimizam riscos potenciais, por meio da educação pública e investimentos em pesquisa.

Transformações da cultura canábica na atualidade

A cultura canábica contemporânea transcendeu suas origens underground para se tornar parte integrante do mainstream global. O que antes era um símbolo de rebeldia agora é tema de conferências empresariais, programas de televisão e publicações especializadas.

O “4/20” (20 de abril), data tradicionalmente associada ao consumo de cannabis, evoluiu de encontros clandestinos para festivais legais que atraem milhares de participantes em países onde a planta foi legalizada. Estes eventos agora incluem palestras educativas e exposições de arte.

A música e o cinema continuam sendo importantes veículos de expressão da cultura canábica. Documentários premiados exploram o potencial da planta, enquanto séries oferecem retratos humanizados e diversos tipos de consumidores.

A gastronomia canábica também apareceu como um campo de experimentação culinária um tanto quanto sofisticada, com chefs renomados explorando as propriedades aromáticas e terapêuticas da planta em criações que vão muito além dos tradicionais brownies — que, convenhamos, também são deliciosos!

Esta evolução cultural reflete uma normalização gradual da cannabis na sociedade contemporânea, onde o estigma diminui à medida que o conhecimento científico e a aceitação social aumentam. A jornada histórica da maconha continua em evolução, escrevendo novos capítulos que prometem transformar ainda mais nossa relação com esta planta milenar.

Quer saber mais sobre a legalização da maconha e seus impactos no mundo? Continue acompanhando nossos conteúdos. Inclusive, separamos um muito especial sobre os tipos de erva, vem conferir!

Referências:

  1. GONÇALVES, S. A. Marco. De que maconha estamos falando?. Rio de Janeiro. FIOCRUZ, 2018.
  2. DEANGELO, Steve. O manifesto da cannabis: um novo paradigma de bem-estar. São Paulo: Editora Vista Chinesa, 2021.
  3. Fiore, Maurício. O lugar do Estado na questão das drogas: o paradigma proibicionista e as alternativas. Novos estudos CEBRAP, 2012. SciELO Brasil.
  4. Franco, R. F., & Victorio, P. C. (2023). Há bases científicas para a descriminalização da cannabis?. Brazilian Journal of Development. Disponível em: https://doi.org/10.34117/bjdv9n9-105
  5. ALVES, V. Pedro. Impactos econômicos da legalização da cannabis: a experiência do Colorado. Editora: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
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Autor: Michael da Mata Conheça o maior blog de headshop e tabacaria do Brasil, dicas e conteúdos exclusivos sobre fumos, sedas, viagens e acessórios para você relaxar!
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